sábado, 22 de outubro de 2011

III Froum de grupos de pesquisa em Direito Constitucional e Teoria do Estado

CARTA DO III FORUM DE GRUPOS ESTUDO DE DIREITO CONSTITUCIONAL E TEORIA DO ESTADO Aos 22 dias de outubro de 2011, reunidos na Universidade Cândido Mendes, o III Forum de Grupos de Pesquisa em Direito Constitucional e Teoria do Estado, após a exposição dos participantes, sintetizam as referidas apresentações nas seguintes assertivas: Sob o prisma da representatividade, essa terceira edição do Forum evidencia uma ampliação expressiva no universo de participantes, com a presença de vários grupos de originários de outros Estados, e com uma significativa diversidade institucional - são 15 IES presentes - o que demonstra a necessidade de incremento dos espaços de relato e debate das pesquisas em Direito Constitucional e Teoria do Estado. Mais ainda, a existência de eixos temáticos comuns ou complementares revela a necessidade da construção dessa rede de discussão. Cumpre avançar mais em mecanismos de adensamento dessa rede de intercâmbio entre os pesquisadores - o blog, já em funcionamento; a futura construção de bases de dados empíricas e de referencias bibliográficas, e outros instrumentos que se possa manejar. O aporte, para fins de realização deste III Forum, bem como de divulgação da produção dos grupos participantes, de recursos originários da FAPERJ demonstra a existência de espaço para a busca de financiamento nas agencias de fomento, seja para as próximas edições do Forum, seja para os mecanismos de facilitação das pesquisas e integração dos grupos acima referidos. No campo do conteúdo em si das apresentações, e possivel apontar os seguintes elementos mais relevantes: 1) Aproximação com o marco teórico norte-americano, exigindo uma cautelosa modulação desse marco teórico quando da aplicação na realidade brasileira. Também na dimensão comparativa, tem-se a presença do direito norte-americano, com a Supreme Court aparecendo como paradigma de comparação. 2) Destaca-se o avanço da metodologia de compreensão do universo do STF, notadamente no campo da busca parâmetros para compreender suas decisões - seja no que toca a seu conteúdo, seja no que diz respeito aos mecanismos de instrução e construção argumentativa de suas conclusões; 3) Importante - nesse mesmo movimento - a presença da discussão pelo viés do institucionalismo do STF enquanto instituição e de seu respectivo desenho institucional. 4) E dada atenção a temática da abertura democrática em relação ao STF com destaque aos institutos do amicus curiae e audiência publica. Nesse tema, constata-se a necessidade de avaliar a real aptidão de tais institutos como instrumentos para participação política. 5) Revela-se a valorização da pesquisa empírica, com o surgimento de temas novos como o do direito a moradia e a questão do gênero - observe-se que mesmo nos grupos cujo tema principal envolvia criminalizacao e normas penais, a pesquisa se da predominantemente sob o viés do gênero. 6) Ainda no campo do traço de empirismo nas pesquisas relatadas, vale destacar o estudo do conjunto de decisões do STF em sede de ADI, privilegiando uma visão integral da pratica decisória daquela Corte nesta especial via de ação; Em conclusão, o acervo de pesquisas relatadas evidencia que a política de fomento a pesquisa no âmbito dos programas de pôs graduação estrito senso materializando avanços significativos; avanços esses que evidenciam uma amadurecimento da atividade de pesquisa no âmbito do direito, sem prejuízo da necessária interdisciplinariedade. Afigura-se como proposta de continuidade desse processo de maturação, o incremento da incorporação de alunos da graduação nas atividades de pesquisa desenvolvidas pelos programas de pôs graduação em direito. Com essas observações, tem-se por encerrados os trabalhos do III Forum de Grupos de Pesquisa em Direito Constitucional de Teoria do Estado, convidando-se de já os participantes para o IV Forum de Grupos de Pesquisa em Direito Constitucional e Teoria do Estado. Comitê Cientifico do III Forum de Grupos de Pesquisa em Direito Constitucional e Teoria do Estado

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Congresso discute o novo Constitucionalismo Latino Americano



A  Universidade Católica de Pernambuco sediou o I Congresso Internacional “Constitucionalismo e Democracia”, promovido pelos Programas de Pós-Graduação em Direito da Unicap e da UFPE. O Congresso teve como principal objetivo criar um espaço para troca de informações e experiências, entre pesquisadores, sobre a relação entre constitucionalismo e democracia. A primeira edição do evento tem como tema central “O novo Constitucionalismo Latino-Americano”.


Leia matéria completa aqui.


"O professor Ivo Dantas falou sobre os ciclos dos processos constitucionais latinos-americanos, tomando como base para as suas argumentações, o neoliberalismo vivenciado na América Latina. Já o professor Roberto Viciano Pastor, considerado o pai intelectual das constituições da Venezuela, Bolívia e Equador, falou sobre as características gerais do novo constitucionalismo, tendo como base as mudanças de ações governamentais, através de uma reforma constitucional. E para encerrar as discussões do primeiro painel de debates, o professor José Ribas Vieira tratou do neoconstitucionalismo, a partir de articulações políticos constitucionais, com base no que pode ser visto na constituição de países latino-americanos, como é o caso de Colômbia, Venezuela, Equador e Bolívia. O professor Ribas tomou como base para as discussões trazidas por ele, a chamada Carta do Recife, um dos pontos de partida que, segundo ele, ajuda a compreender melhor a definição de neoconstitucionalismo".

Veja vídeo com a palestra do Prof. Dr. José Ribas Vieira, clicando aqui.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A melhor universidade do mundo

Folha 10 de outubro A MELHOR DO MUNDO Pequeno e com foco em pesquisa científica, Caltech desbanca Harvard do topo do ranking mundial de universidades LUCIANA COELHO DE WASHINGTON O orgulho de ter batido a indefectível Harvard como primeira do ranking da THE (Times Higher Education) era indisfarçável no pequeno Caltech na última quinta, quando a lista mundial saiu. Após o anúncio, até o logo no site institucional foi adaptado para alardear o feito. O Instituto de Tecnologia da Califórnia -ou Caltech- é, afinal, a menor das principais universidades americanas, com apenas 2.175 alunos entre graduação e pós (1/10 de Harvard, e menos que 1/3 da segunda menor nesse escalão, Princeton). É também, ao lado da vizinha californiana Stanford, uma das mais "jovens" nesse restrito clube americano de instituições centenárias: em 2011 completou 120 anos. "O Caltech não ganhou nenhum Nobel hoje, mas fomos listados como a universidade n.º 1 do mundo pelo ranking da THE! Superamos Harvard pela primeira vez em oito anos!", diz o comunicado enviado pelo instituto, exclamações inclusas. Não ganharam Nobel neste ano, mas colecionam 32 ao longo de sua história. Parte do sucesso tem a ver com o tamanho conciso e o foco restrito em ciências exatas. São 525 professores (em média, 1 para 4 alunos), além de 208 professores-visitantes. "Como há poucos alunos, conhecemos todo mundo; é muito fácil se adaptar aqui", disse à Folha o brasileiro Alex Takeda, 20, desde 2009 no Caltech. Takeda, de Londrina (PR), chegou a entrar no ITA, mas preferiu estudar nos EUA, onde pensa em ficar para a pós-graduação. Seu único compatriota na graduação é Ariel Setton, 18, que chegou ao instituto há três semanas, vindo de São Paulo. "O ambiente aqui é altamente cooperativo, algo um pouco incomum nas faculdades dos EUA ". O Caltech tem um departamento de humanidades, e os alunos são obrigados a cursar suas disciplinas. Mas quem entra no instituto em Pasadena, a 10 km de Los Angeles, quer mesmo é estudar física, matemática e química. A carga de estudos é puxada: a instituição sugere nove horas semanais de dedicação a cada matéria, e os alunos costumam cursar cinco ou seis por trimestre. "O melhor que podemos fazer é continuar atraindo e apoiando pessoas excepcionais, dando a elas a liberdade para se dedicar a questões globais", afirmou o presidente da instituição, Jean-Lou Chameau, em comunicado. VANGUARDISMO O Caltech prima pela pesquisa científica. É ali que está o Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (JPL), o mais avançado em tecnologia espacial, responsável pelos projetos de sondas-robô para exploração interplanetária. Também é ele que administra o imenso telescópio Keck, um dos mais importantes do mundo, fincado no Havaí. "[A diferença do] Caltech é que ele é mais focado na pesquisa científica e tecnológica", diz Ariel. Em 2009 (último dado disponível), o instituto gastou 47% de seu orçamento em pesquisa. Mas a excelência também atrai fundos: 87% do orçamento veio de aportes dos governos federal e estadual. Outros 33% vieram de empresas e indivíduos. O total da verba supera 100% porque, com a crise, o instituto perdeu parte do dinheiro de sua reserva. "É um ambiente difícil", admite Chameau. "Mas o Caltech tem sorte de ter doadores leais e parceiros cujo apoio nos permite investir em novas ideias muito antes que elas se tornem elegíveis ao financiamento público." O financiamento à pesquisa ali subiu 16% em 2011. "É esse modelo de parceria público-privada que permite que nossos fundos cresçam." (COLABOROU IZABELA

domingo, 9 de outubro de 2011

Movimentos sociais

Folha 8 de outubro de 2011 Sociólogo vê reflexo de "era da exclusão" em movimentos Michael Burawoy afirma que atos como Ocupe Wall Street são promovidos "mais pelos excluídos que os explorados" Professor em Berkeley, ele avalia que "canais políticos normais não conseguem lidar" com esse tipo de fenômeno ELEONORA DE LUCENA DE SÃO PAULO Movimentos que aparecem e desaparecem, fluidos e persistentes. Fragmentados, gravitam em torno dos excluídos do capitalismo. Assim Michael Burawoy, presidente da Associação Internacional de Sociologia, explica os movimentos sociais que pipocam no mundo e o recente Ocupe Wall Street. Para o professor de sociologia na Universidade da Califórnia, em Berkeley, que já trabalhou como operário para fazer suas pesquisas, a atual crise econômica vai ajudar o capitalismo a se reestruturar. E prevê que a catástrofe ambiental "vai forçar uma resposta em nível global". Folha - Como descreve o capitalismo hoje? Michael Burawoy - É a terceira onda de mercadilização. A primeira foi no século 19, a segunda em meados do século 20, e agora a terceira onda. A mudança começou nos anos 1970. Chamam de neoliberalismo. Há hoje uma crise de fundo? Não chamaria assim. Crises permitem o capitalismo reestruturar a si mesmo. O capitalismo financeiro ficou ainda mais forte, fora do controle dos Estados. A grande crise do capitalismo virá com a catástrofe ambiental. Como? Haverá desastres cada vez mais frequentes e profundos, um momento de virada, uma espécie de barbárie ou alguma forma de regulação global dos mercados. Regulação de mercados pode ter um caráter fascista ou comunista ou socialdemocrata. Outra questão é se teremos recursos para conter o capitalismo. Não sei quando isso acontecerá, mas essa será a crise de fundo do capitalismo: destruir as condições de sua própria existência, destruindo o ambiente. Como o sr. avalia os movimentos sociais em várias partes do mundo e o Ocupe Wall Street? São similares. Estive em Barcelona e vi os indignados. Resistem a se engajar no sistema político. Canais políticos normais não conseguem lidar com isso. Esses movimentos refletem uma era de exclusão. Seus participantes são mais os excluídos que os explorados. O centro de gravidade desses movimentos são desempregados, estudantes semi-empregados, juventude desempregada, membros precários da classe média. É um conglomerado de grupos diferentes vivendo um estado de precariedade porque foram excluídos da chance de ter uma posição estável de exploração. Hoje a exploração, o dinheiro seguro é privilégio para poucos. Qual o futuro dos movimentos se sua organização é confusa? Não são movimentos fortes, mas são persistentes. São oposições radicais. É uma das reações à terceira onda capitalista. Há muitas outras, diferentes. Há o Tea Party, que é outra forma de reação. Na Europa há um avanço da direita. Na América Latina há interessantes experiências de participação em democracias locais. Há a resposta islâmica. Nenhuma tem coerência para se espalhar pelo mundo. São fragmentadas. Vão continuar, algumas de forma regressiva, ou progressista, ou democrática. A crise ambiental vai forçar uma resposta em nível global. Qual a importância dos movimentos? O significativo é o caráter simbólico de crítica ao capitalismo. São poucos milhares pelo país, mas têm a capacidade de atrair atenção usando técnicas inovadoras. Recusam fazer compromissos e concessões. A pergunta é se eles conseguiram transformar essa política simbólica em um movimento mais profundo. Vivemos num período do capitalismo em que o bem-estar está fora de controle e o Estado frustra. O movimento sindical está numa posição mais defensiva, pois quer defender empregos, e não atacar o capitalismo de fato. Ocupe Wall Street pode exercer influência no partido democrata, assim como o Tea Party no partido republicano? Os democratas devem ser revitalizados, mas isso não está na pauta do movimento. É uma política formal com a qual não vão se engajar. O movimento pode ter importância nas próximas eleições? Sim. Podem usar o ano eleitoral para disseminar suas ideias. Mas não imagino candidaturas. Não é um movimento de política eleitoral. Como movimentos desligados das principais instituições da sociedade podem sobreviver? Eles aparecem, se sustentam por semanas ou meses. Depois perdem a atenção da mídia, perdem apoio, desaparecem. E depois reaparecem em algum outro lugar. Há um senso de continuidade, mas não num mesmo lugar. É um movimento transespacial fundamentado por razões locais. É preciso ver isso no contexto do capitalismo. É um movimento muito fluido e flexível. Fui a Wall Street. Estava lá e nem sabia que haveria uma marcha. Há espontaneidade. Aparecer, desaparecer. É parte de sua força e de sua fraqueza.

domingo, 2 de outubro de 2011

Onde anda esquerdda americana

Onde anda a esquerda americana? Para vencer os conservadores em 2012, será vital restabelecer o contato com o americano médio e mostrar como os EUA serão um país melhor 02 de outubro de 2011 | 3h 05 Notícia A+ A- Assine a Newsletter É PROFESSOR DE HISTÓRIA EM GEORGETOWN, COEDITOR DA REVISTA DISSENT, MICHAEL, KAZIN, THE NEW YORK TIMES, É PROFESSOR DE HISTÓRIA EM GEORGETOWN, COEDITOR DA REVISTA DISSENT, MICHAEL, KAZIN, THE NEW YORK TIMES - O Estado de S.Paulo Às vezes, deveríamos nos preocupar com a ausência de novidades. As desgraças econômicas dos Estados Unidos não pararam, o desemprego continua elevado e as vendas internas estão estagnadas ou despencando. O abismo entre os americanos mais ricos e seus compatriotas é maior do que o que era desde os anos 20. Mas, salvo pelas manifestações e pelas enérgicas campanhas para a realização de plebiscitos revogatórios que tumultuaram o Estado de Wisconsin este ano, sindicalistas e outros violentos críticos do poder das grandes corporações e dos cortes do governo não conseguiram organizar um movimento sério contra as pessoas e as políticas que empurraram os EUA para a recessão. Em vez disso, a rebelião do Tea Party - liderada por veteranos ativistas conservadores e financiada por bilionários - levou os políticos de ambos os partidos a reduzir drasticamente os gastos federais e a derrotar as propostas para taxar os ricos e fazer com que os financistas se responsabilizem por seus crimes. Em parte como consequência deste cenário, o mandato de Barack Obama começa a se parecer menos como o segundo mandato de Franklin Delano Roosevelt e mais como uma reedição de Jimmy Carter - embora na semana passada o presidente tenha lembrado um pouco seu ex-colega rooseveltiano ao propor que os milionários "paguem sua justa parcela de impostos, ou teremos de pedir aos cidadãos mais velhos que aumentem sua contribuição ao Medicare". Como explicar o relativo silêncio da esquerda? Talvez o que é realmente fundamental no vigor de um movimento sejam seus anos de gestação. Na década de 30, o crescimento dos sindicatos e a popularidade das reivindicações pela redistribuição da riqueza e o estabelecimento da "democracia industrial" não constituíram simplesmente a resposta ao colapso econômico. Na realidade, os sindicatos só floresceram na metade da década, quando já ocorria modesta recuperação. O triunfo liberal dos anos 30 estava arraigado em décadas de eloquente oratória e organização de uma variedade de reformadores e radicais contra os males do "monopólio" e dos "grandes investidores". Do mesmo modo, a atual direita populista originou-se entre os eloquentes porta-vozes e as instituições amplamente financiadas que surgiram nos anos 70, muito antes do início da crise atual. Os dois movimentos discordavam praticamente a respeito de tudo, mas cada um tinha promotores agressivos que, respaldados por poderosas forças sociais, estabeleceram seus pontos de vista como a sabedoria convencional de uma era. As sementes da esquerda dos anos 30 foram plantadas na Idade do Ouro por figuras como o jornalista Henry George. Em 1886, George, autor de um best-seller que condenava a especulação fundiária, concorreu ao cargo de prefeito de Nova York como candidato do novo Union Labour Party. Ele atraiu inúmeros seguidores com discursos que acusavam as autoridades da máquina da Tammany Hall (sociedade democrata que manipulava a política municipal) de se empanturrarem com o dinheiro dos subornos e com os privilégios especiais enquanto "há hordas de cidadãos que vivem na miséria e no vício causado pela miséria, em condições que deixariam um bárbaro assombrado". George levou uma mensagem de esperança a seus ouvintes: "Estamos construindo um movimento pela abolição da escravidão industrial, e o que fazemos deste lado do oceano enviará seus impulsos por terra e por mar, e fará com que todos os homens tenham a coragem de pensar e de agir". Concorrendo contra candidatos dos dois principais partidos e com a oposição de quase todos os empregadores locais e da Igreja, George provavelmente teria sido eleito, se Theodore Roosevelt, então com 28 anos, o republicano que foi o terceiro mais votado, não tivesse dividido o voto anti-Tammany. Apesar da derrota de George, o movimento em favor dos trabalhadores, contra as grandes corporações que se uniu ao seu redor e outros continuaram crescendo. Com o aproximar-se da virada do século, os assalariados organizaram enormes greves para o reconhecimento dos sindicatos nas ferrovias da nação, nas minas de carvão e nas usinas têxteis. Rebelião. Nos anos 1890, uma rebelião nascida principalmente nas áreas rurais produziu o People's Party, também conhecido como Populista, que rapidamente conseguiu o controle de vários Estados e elegeu 22 congressistas. O partido logo acabou, mas não antes de os democratas, liderados por William Jennings Bryan, adotarem partes do seu programa - o imposto de renda progressivo, uma moeda flexível e o financiamento para a organização dos trabalhadores. No início do século 20, uma coalizão progressista mais ampla, incluindo trabalhadores imigrantes, reformistas da classe média urbana, jornalistas de tabloides e os Social Gospelers (membros do movimento religioso pela reforma social) estabeleceram um novo senso comum sobre a necessidade de um governo que freasse o poder das grandes empresas e estabelecesse um estado previdenciário limitado. O livre mercado ilimitado e a ética do individualismo, argumentavam eles haviam deixado muitos americanos à mercê do que Theodore Roosevelt chamava de "malfeitores com grandes riquezas". Como Jane Adams disse: "O bem que garantimos para nós é precário e incerto, flutua no ar, até que seja garantido a todos e incorporado na nossa vida comum". Durante os anos do boom da década de 20, os conservadores criticaram violentamente esta máxima e conquistaram o controle do governo federal. "O negócio fundamental do povo americano são os negócios", afirmou o presidente Calvin Coolidge. Mas seu triunfo foi de curta duração, tanto em termos ideológicos quanto eleitorais. Quando Franklin D. Roosevelt foi eleito com uma votação esmagadora em 1932, a maioria dos americanos já se preparava para aceitar a justificativa econômica e moral que os progressistas defendiam desde a época de Henry George. Will Rogers, humorista e leal democrata, expressou isso em termos rurais: "Toda a forragem está indo para um coxo só e o gado do outro lado do estábulo não recebe nada. Nós conseguimos, mas não sabemos dividi-la". Os sindicalistas do Congresso das Organizações da Indústria insistiram no seu argumento, bem como os demagogos que defendiam a ideia de espremer o dinheiro dos ricos, como Huey Long e o reverendo Charles Coughlin. Os arquitetos da seguridade social, do salário mínimo e de outras medidas que foram marcos históricos do New Deal fizeram o mesmo. Depois de anos de preparação, o liberalismo do Estado do bem-estar finalmente se tornava um credo de todo o país. Em 1939, John L. Lewis, o combativo líder trabalhista, declarou: "Os milhões de trabalhadores organizados reunidos na CIO são a principal força do movimento progressista de operários, camponeses, e pequenos proprietários de empresas e de todos os outros elementos liberais da comunidade". Com estas forças ao seu lado, Franklin D. Roosevelt, munido de sólida formação política, tornou-se um grande presidente. Mas o significado de liberalismo foi se modificando gradativamente. Os 25 anos de expansão e de baixo desemprego que se seguiram à 2.ª Guerra calaram compreensivelmente as reivindicações de justiça social da esquerda. Os liberais estavam preocupados com os direitos das minorias e das mulheres mais do que com a persistente desigualdade da distribuição da riqueza. Ao mesmo tempo, os conservadores começaram a moldar seu movimento com base no repúdio do "socialismo sub-reptício" e na sua crescente convicção de que o governo federal estava esquecido ou se mostrava hostil aos interesses e os valores dos brancos de classe média. No final dos anos 70, a base da direita foi representada por um indivíduo agressivo, um empresário ativista sempre com um charuto entre os dentes, chamado Howard Jarvis. Ele, que lutara pelas causas conservadores desde a campanha de Herbert Hoover em 1932, candidatara-se ao cargo em várias ocasiões, mas, como Henry George, nunca tinha sido eleito. Impedido pelas urnas, ele se tornou um organizador do movimento contra os impostos e tornou extremamente difícil a aprovação de qualquer medida para elevá-los. Naquele ano, a Proposta 13 recebeu quase dois terços dos votos, e desde então os conservadores insistem em sua argumentação contra a adoção de impostos. Assim como a esquerda outrora podia atribuir os problemas da nação a grandes empresários insensíveis, a direita aperfeiçoava uma crítica direta à ingerência do governo que pegava o dinheiro dos americano em troca de pouco ou nada de útil. Um dos motivos da expansão da direita foi o fato de que, em sua maioria, os que ocuparam a presidência, de meados de 1960 a 2008 - democratas ou republicanos - não cumpriram suas principais promessas. Lyndon Johnson não derrotou os vietcongues, nem aboliu a pobreza; Jimmy Carter não conteve a inflação, nem libertou os reféns no Irã; George W. Bush não cumpriu sua missão no Iraque, nem controlou o déficit. Do mesmo modo que a esquerda no início do século 20, os conservadores criaram um conjunto impressionante de instituições para desenvolver e disseminar suas ideias. Suas comissões de especialistas, ordens de advogados, lobistas, conversas ao pé do rádio e os manifestos que se tornaram best-sellers prepararam, formaram e financiaram duas gerações de escritores e organizadores. As universidades cristãs conservadoras, protestantes e católicas, incutem nos estudantes uma visão de mundo mais coerente do que escolas mais prestigiosas dirigidas por liberais. Mobilização. Mais recentemente, os conservadores mobilizaram veículos de comunicação como a Fox News e as páginas editoriais do Wall Street Journal para a sua causa. O Tea Party é apenas a versão mais recente de um movimento que vem evoluindo há mais de meio século, mais tempo do que qualquer iniciativa da esquerda liberal ou radical que lhe sirva de comparação. Os conservadores raramente comemoraram uma vitória esmagadora do gênero da Proposição 13, mas seu argumento sobre os males da ingerência do Estado em geral predomina. A incapacidade de Obama de resolver os problemas econômico da nação só fortaleceu a vantagem ideológica da direita. Se os ativistas da esquerda pretenderem modificar a realidade, terão de cogitar uma maneira de redefinir o antigo ideal da justiça econômica para a era da internet e para a constante mobilidade geográfica. Durante as últimas eleições, muito esperavam que a organização que favoreceu a campanha presidencial de Obama fizesse exatamente isso. Mas, desde que assumiu a presidência, Obama muito raramente fez um esforço para conduzir a conversação pública nesta direção. Ao contrário, a esquerda precisa entender que quando os progressistas tiveram sucesso no passado, quer organizando sindicatos quer lutando pela igualdade de direitos, raramente apostaram nos políticos. Eles criaram suas próprias instituições - sindicatos, grupos de mulheres, centros comunitários e de imigrantes e uma imprensa inteligente contrária ao autoritarismo - nas quais eles falavam em seu nome e pelos interesses dos assalariados americanos. Hoje, estas instituições estão ausentes ou enfraquecidas. Com os sindicatos em dificuldades ou em declínio, os trabalhadores de todas as raças carecem de um veículo forte para se articular e lutar pela visão de uma sociedade mais igualitária. Universidades, sites e ONGs liberais atendem na maior parte a uma classe média profissional e são mais eficientes na promoção de causas sociais como a legalização dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo e a proteção do meio ambiente do que em exigir milhões de novos empregos que paguem um salário que permita viver. Será vital restabelecer o contato com os americanos médios não apenas para derrotar os conservadores em 2012 e em eleições futuras. Se isso não acontecer, a esquerda continuará incapaz de afirmar clara e apaixonadamente como poderá ser um país melhor e o que será preciso para chegar lá. Parafraseando o mártir trabalhista Joe Hill, a esquerda deve parar de lamentar seu passado recente e começar a se organizar para mudar o futuro. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA