domingo, 22 de junho de 2008

Reflexões para além do simbolismo: uma breve análise sobre o candidato democrata à presidência dos Estados Unidos.

Barack Obama é de fato o primeiro candidato negro com chances reais de chegar à presidência, mas o que além da figura simbólica representa Barack Obama.
A mídia brasileira vem tratando das eleições norte-americanas sob um marco teórico sugestivo. As eleições americanas parecem nunca ter tido tanta audiência como foram as últimas prévias democratas, e isto por que nem chegamos ao momento da eleição de fato. Não se sabe se isto é uma estratégia democrata ou algo além, mas o candidato republicano John McCain não tem a mesma visibilidade de Barack Obama, que ganha o “status” de ser capa de uma revista de grande circulação nacional.
Esta é sem dúvida uma eleição destoante em relação às eleições norte-americanas anteriores. É destoante pelo fato de o partido democrata ter tido como pré-candidatos um negro e uma mulher. É destoante no caráter simbólico no seio de uma sociedade ainda com heranças de preconceito racial e de gênero, mas não é destoante quando se busca fazer uma análise mais profunda sobre a conjuntura político-economica que regem estas eleições. Barack e Hillary, ideologicamente falando são mais semelhantes do que possa parecer, e quando se pára para analisar seus projetos de governo, nenhum dos dois está preocupado em combater a principal razão para os problemas que tentam focar em seus discursos: o sistema econômico. Barack e Hillary parecem não estar dispostos a discutir o sucateamento do sistema social agravado pelos “anos Reagan” que marcam o início do neoliberalismo, nem outras questões que agravam a base da sociedade americana, problemas estes que não são exportados ao mundo sob o padrão hollywoodiano.
As questões raciais nos Estados Unidos se originam em profundas raízes históricas, e passam por um forte período de denúncia nos anos 50 com Martin Luther King em sua luta pela conquista de direitos civis. Desde então, a sociedade americana tenta encontrar formas de extinguir este preconceito, foram conseguidos alguns avanços desde então, mas isto não tornou a sociedade americana mais aberta ou mais igual.
Malcolm X já colocava que “não existe capitalismo sem racismo”, numa profunda constatação de que o combate ao racismo pode não resolver a desigualdade econômica.
Não se busca aqui negar que o racismo exista, como existe de fato, mas ele está diretamente relacionado com a riqueza e a pobreza herdadas historicamente, que constroem no pensamento social categorias de diferenciação que geram sérias conseqüências sociais.
Mascara-se no discurso que o problema é o racismo e que a solução seria fazer com que os ricos sejam de cores diferentes, ignorando a complexa relação entre construção de riqueza e agravo de pobreza.
Busca-se que os membros da “nova sociedade” norte-americana gozem de status e renda suficientes para serem considerados de elite, num ambiente onde o liberalismo americano tenta fazer as pazes com a ética política.
Quando se busca uma elite mais diversificada, não há dúvidas de que a melhor opção é a eleição de Obama para a presidência.

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