segunda-feira, 13 de junho de 2011

A universidade do século XXI

Folha de São Paulo 13 de junho de 2011

Inovar a inovação

Harvard e MIT investem em laboratórios multidisciplinares e apontam novos caminhos para a universidade do século 21



As reformas no local onde será inaugurado o I-Lab, em Harvard

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Em um prédio abandonado em Boston, nos EUA, onde funcionava uma emissora de televisão, está surgindo um laboratório que propõe reinventar a maneira como a universidade produz inovação.
Essa é uma das apostas de Harvard para continuar em primeiro lugar no ranking das melhores do mundo, atraindo ainda mais pessoas com espírito empreendedor.
Batizado de I-Lab (Innovation Lab, laboratório de inovação), a ser inaugurado no próximo semestre, esse centro quer quebrar os muros que separam as várias faculdades, misturando num mesmo espaço de colaboração alunos, professores e pesquisadores, apoiados por empresários e executivos.
"Vão ficar juntos engenheiros, médicos, advogados, designers e arquitetos, cada um desenvolvendo seu projeto -que pode ser desde criar um novo aplicativo para celular como uma campanha para combater a malária da África", conta o diretor do I-Lab, Gordon Jones.
"Estamos fazendo um esforço interdisciplinar para gerar melhores empreendedores", diz Jones, também professor na Escola de Negócios de Harvard.
A mensagem por trás desse novo laboratório é a de que os currículos universitários devem abrir espaço para o cruzamento das diversas áreas de conhecimento.
O recém nomeado pró-reitor acadêmico de Harvard é alguém cuja biografia resume esse movimento. Alan Garber formou-se em medicina e economia, e usou ambas as áreas para ensinar como melhorar a saúde pública.
"Um dos principais elementos da excelência acadêmica no século 21 é a qualidade de programas inter e multidisciplinares", diz Garber.
A visão do pró-reitor é reforçada por sua experiência em Stanford, na Califórnia. Lá, foi um dos pioneiros na criação de núcleos que unem pesquisadores de diferentes áreas. Foi o que ajudou a transformar o Silicon Valley no centro planetário de experimentações e desenvolvimento de produtos de tecnologia da informação. Google e Yahoo, por exemplo.
Também com passagem por Stanford, Gordon Jones, o diretor do I-Lab, acredita que ser empreendedor é ter a disposição de experimentar e lidar com o erro. "Vamos ser avaliados pelo número de inovações que vamos gerar."

MIT TAMBÉM
Um dos grandes exemplos dos bons resultados trazidos por tal diversidade de formações trabalhando em um espaço comum está em outro prédio, bem próximo do I-Lab, onde pesquisadores se propõem a revolucionar as investigações sobre o câncer.
Em parceria com várias instituições, inclusive Harvard, funciona no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets) o centro David H. Koch, inaugurado neste ano.
O projeto colocou no mesmo prédio vários cientistas da química e da biologia e misturou-os com oncologistas, psicólogos, psiquiatras e engenheiros especializados em nanotecnologia.
Muitos dos pesquisadores já trabalhavam com projetos ligados ao tema, mas poucos se conheciam entre si.
O David Koch segue um modelo criado dentro do próprio MIT para reinventar a produção e a disseminação de informação, o MediaLab.
Ligado à faculdade de arquitetura, já nasceu inter e multidisciplinar. Dali, por exemplo, surgiu o projeto que usa o aparelho celular para fazer exames à distância de problemas na vista.
Em Harvard, existe um outro polo interdisciplinar, citado como um dos inspiradores para o I-Lab, voltado à biologia regenerativa.
Engenheiros e médicos pesquisam drogas para rejuvenescer os órgãos do corpo humano -ali levantou-se a hipótese de desafiar a ideia de que sejamos mortais.
A imortalidade pode ser mais uma dessas fantasias que acompanham a história da humanidade. O fato é que, graças à combinação de pesquisadores de diferentes áreas, eles já conseguiram rejuvenescer um rato.

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