sábado, 14 de novembro de 2009

O julgamento de 11 de setembro e o Gov. Obama

Folha de São Paulo, sábado, 14 de novembro de 2009



Mentor do 11 de Setembro será julgado em Nova York
Khalid Shaikh Mohammed deixará Guantánamo para responder processo nos EUA

Secretário da Justiça diz que governo pedirá a pena de morte ao autoproclamado "cérebro" dos ataques se ele for considerado culpado



O autoproclamado "cérebro" do ataque de 11 de setembro de 2001, o kuaitiano Khalid Shaikh Mohammed, será julgado num tribunal civil federal em Nova York, cuja sede central fica a dez quarteirões de onde se encontravam as torres do World Trade Center, que ele disse ter ajudado a destruir, matando 2.602 pessoas.
A decisão de julgar nos EUA e numa corte civil tanto KSM -como ele é conhecido- como outros quatro suspeitos atualmente detidos na base militar de Guantánamo, em Cuba, faz parte de promessa feita por Barack Obama, de que fecharia a prisão após um ano de mandato. A ação foi anunciada ontem por seu secretário da Justiça, Eric Holder. Ele disse que o governo pedirá a pena de morte para os cinco, caso sejam considerados culpados.
Na mesma ocasião, Holder afirmou que outros cinco suspeitos detidos ali serão julgados naquela parte da ilha cubana sob controle dos EUA, numa versão modificada das comissões militares instituídas pelo republicano George W. Bush (2001-2009). No segundo grupo está o saudita Abd al-Rahim al-Nashiri, suspeito de planejar o ataque ao destróier americano USS Cole, que matou 17 marinheiros em outubro de 2000, no mar do Iêmen.
Dessa maneira, como em bom número de suas ações mais importantes como presidente até agora, Obama fica no meio caminho da decisão histórica, agradando parte de sua base política e alienando outra.
O julgamento dos detidos em Guantánamo em cortes não militares é exigência antiga de entidades de direitos civis, que apontam para o fato de a maioria dos 215 hoje na base nem sequer saber do que é acusada.
Já a decisão de julgar um grupo de suspeitos nos tribunais militares é um retrocesso em relação ao começo de seu governo, quando ele anunciou que suspenderia tais instâncias -e serve para agradar os conservadores, que são contrários tanto ao fechamento de Guantánamo como ao envio de seus detidos para os EUA.
Segundo o governo, os casos julgados pelas comissões são mais sensíveis e tornariam públicas informações importantes da inteligência americana caso fossem levados a tribunais civis. De acordo com entidades como a ACLU, a maior de direitos civis do país, no entanto, o que se teme expor são falhas e desmandos tanto no processo de prisão como no levantamento de provas.

Nova York x Virgínia
Seguindo a lei americana, os detidos em Guantánamo só poderão ser levados ao país 45 dias após o anúncio de ontem e esperarão seu julgamento numa penitenciária federal em Nova York. A decisão sobre a localização do tribunal põe fim a uma disputa entre esse Estado e a Virgínia, onde fica o Pentágono, outro alvo do 11 de Setembro, que queria a primazia.
Indagado sobre a decisão durante viagem ao Japão, ontem, Obama comentou apenas o caso de KSM. "Estou absolutamente convencido de que Khalid Shaikh Mohammed será submetido ao mais exigente processo da Justiça", disse. "O povo americano insiste nisso, assim como meu governo."

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