Seguindo algumas reportagens que tratam da normalização da exceção no mundo contemporâneo, abaixo está mais uma vinda da Folha de São Paulo de segunda-feira com alguns trechos do discurso do ex-secretário de defesa de Bush e atual de Obama. Pelas palavras do secretário de defesa, o recém-empossado presidente americano segue aquilo pelo qual havia se manifestado no decorrer de sua campanha sobre o redirecionamento da “campanha militar contra os “terroristas”” do Iraque ao Afeganistão, pois lá, segundo Obama, estariam os que realmente eram “terroristas”.
Segue a lógica da normalização da exceção, deixando indícios de que em alguns pontos da política externa americana Obama não se diferenciará tanto assim do governo Bush. O que se põe no Afeganistão é que lá a exceção é “legalizada” por uma resolução do Conselho de Segurança que a era Bush deixou de herança a Obama depois de muita barganha política em 2001 e, pelos indícios, o mesmo deseja utilizar-se de tal para combater os “terroristas”. Mais um capítulo da “guerra contra o terror”.
Vale lembrar que um dos campos de exceção paralelos à Guantánamo é a prisão de Bagram, no Afeganistão.
Mais um breve comentário: infeliz também o jornalista que intitula “inimigos” seu sub-texto.
Secretário de Defesa dos EUA diz que Afeganistão é seu "maior desafio"
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, declarou nesta terça-feira, em uma audiência com os integrantes do Comitê de Serviços Armados do Senado americano, que o Afeganistão é, atualmente, o "maior desafio militar" do país. "Esta será, sem dúvida, uma batalha comprida e difícil."
Para Gates, é necessário que os EUA aumentem a sua presença no Afeganistão em "30 mil homens ou mais". Essa estimativa vai ao encontro da promessa de campanha do presidente americano, Barack Obama, de redirecionar militares que estão no Iraque para o Afeganistão.
Gates era secretário de Defesa do governo do ex-presidente George W. Bush (2001-2008) e foi mantido no cargo pelo recém-empossado Obama. Gates assumiu o Pentágono há quatro anos e foi muito elogiado por republicanos e democratas pela atuação nos conflitos liderados pelos americanos. Ele afirmou recentemente que concorda com o plano de redirecionamento de tropas de Obama, porém discorda da retirada do Iraque.
Obama, na campanha presidencial, afirmou que encerraria a guerra no Iraque em menos de dois anos, porém, no final do ano passado, os EUA --sob a gestão de Bush e também Gates-- assinaram um acordo que estipula 2011 como prazo máximo de retirada.
Sobre o crescente agravamento da violência no Afeganistão, Gates avaliou estar "claro" que os EUA não dispunham de "tropas suficientes para assegurar um nível mínimo de segurança nas zonas mais perigosas". "E isso foi preenchido, progressivamente, pelos talebans." Gates ressaltou que "como no Iraque, não existe uma solução puramente militar no Afeganistão."
Em relação ao Iraque, Gates destacou as eleições parlamentares, que acontecem no próximo sábado (31), como sinal de avanço.
Gates ressaltou aos senadores que falhas no orçamento e no planejamento das aquisições do Departamento de Defesa americano provocaram, nos últimos anos, "problemas inaceitáveis". Ele afirmou esperar que Obama reduza a fatia do Orçamento destinada à Defesa em breve, mas disse que irá encarar a situação como "uma oportunidade". "É uma rara chance de somar virtude e necessidade, separar gula de requisitos reais."
Nos próximos anos, Gates afirma que os EUA precisarão de "coragem para fazer escolhas difíceis". "Precisamos congelar contratos destinados a guerras em detrimento de contratos que incentivem um bom comportamento."
Inimigos
Nesta terça-feira, a emissora árabe Al Arabiya exibiu a primeira entrevista de Obama a uma TV como presidente americano. Na entrevista, Obama afirma que os americanos não são os inimigos dos muçulmanos.
"Meu trabalho em relação ao mundo muçulmano é comunicar que os americanos não são seus inimigos; às vezes cometemos erros, não temos sido perfeitos." Durante a campanha presidencial, Obama prometeu que melhorará os laços dos EUA com o mundo muçulmano através de uma política externa menos militarista e mais diplomática.
Na entrevista, Obama ainda incentivou negociações de paz entre israelenses e palestinos; e repetiu a frase do discurso de posse sobre 'estender a mão' ao Irã, desde que aquele país 'abra os punhos'.
"O diálogo e a diplomacia devem estar de mãos dadas com uma firme mensagem dos EUA e da comunidade internacional de que o Irã precisa cumprir as suas obrigações [de acabar com seu projeto nuclear] tal como foram estabelecidas pelo Conselho de Segurança [da ONU] e de que sua rejeição não fará mais que aumentar a pressão."
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