Matéria publicada no Jornal Folha de São Paulo trata do pedido de suspensão de julgamento dos prisioneiros de Guantánamo por 120 dias.
Fazendo breve comentário sobre o caso, não é exatamente o fechamento ainda da prisão, como foi largamente anunciado por parte da mídia nacional e internacional. A comissão criada por Obama analisará os processos durante esses 120 dias antes de determinar o fechamento ou não da prisão e a suspensão ou não do julgamento.
Vale lembrar que não é somente Guantánamo o único campo de exceção norte-americano, mas também Abu Ghraib, no Iraque; a ilha de Diego Garcia, no Oceano Índico; a prisão de Bagram, no Afeganistão e outros muitos eventuais campos não oficiais. È preciso primeiramente esperar esses 120 dias da análise da comissão a ser criada por Obama para que se verifiquem indícios de sua possível política externa acerca do "terrorismo". Um desses indícios será o destino desses prisioneiros, a maioria originada de detenções ilegais. Obama durante a campanha deu declarações de que não irá tolerar que um país como o Irã abrigue terroristas e disse que "nós derrotaremos" os terroristas em seu discurso de posse , dentre outras. A prática dará o tom de seu governo, e é preciso romper nesse momento um pouco o ufanismo presente para uma real análise de seu governo.
Folha de São Paulo, 21/01/2009
Em 1º ato contra legado Bush, Obama pede suspensão de julgamentos em Guantánamo
Em seu primeiro dia como presidente dos Estados Unidos, Barack Obama pediu a suspensão por 120 dias de todos os julgamentos dos detidos na prisão de Guantánamo, em Cuba. O ato é o primeiro sinal de Obama para mostrar aos americanos --e a comunidade internacional- que está disposto a encerrar o legado impopular de George W. Bush.
A solicitação formal neste sentido foi apresentada na noite desta terça-feira, às 20h51 (23h51 no horário de Brasília) aos juízes militares responsáveis pelos casos de Guantánamo, em cumprimento a uma ordem de Obama, transmitida oralmente através do secretário da Defesa, Robert Gates --que já estava no cargo durante o governo Bush.
Brennan Linsley/Efe
Acampamento de Justiça em Guantánamo onde são feitos os julgamentos dos prisioneiros
Acampamento de Justiça em Guantánamo onde são feitos os julgamentos dos prisioneiros
"No interesse da justiça, e a pedido do presidente dos Estados Unidos e do secretário de Defesa Robert Gates, o governo solicita, respeitosamente, que as comissões militares autorizem o adiamento dos processos mencionados anteriormente até 20 de maio de 2009", afirma a moção que será apresentada nesta quarta-feira (21) pelo juiz Cayton Trivett, do Ministério Público, a dois procuradores dos tribunais de exceção.
Um dos procuradores, Stephen Henley, é responsável pelo processo de cinco homens acusados de ajudar a organizar os atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington. O segundo, Patrick Parrish, examina o caso de Omar Khadr, um canadense detido quando tinha apenas 15 anos no Afeganistão, acusado de matar um soldado americano.
Caberá aos dois aceitar o pedido de congelamento das comissões militares de Guantánamo.
O principal advogado nos casos em Guantánamo, o coronel Peter Masciola, afirmou ao jornal "Miami Herald" que os juízes "vão seguir as indicações do presidente", independentemente das ações da defesa.
Na expectativa de que Obama feche definitivamente Guantánamo e liberte os 245 prisioneiros da base americana, os advogados de defesa devem pedir a Obama que prolongue a suspensão para além de 20 de maio.
O democrata Obama já havia se comprometido, ao longo da campanha pela Casa Branca, a fechar a prisão de Guantánamo, onde um "buraco negro" legal permite que os prisioneiros sejam mantidos sem julgamento ou acusação formal por anos.
Considerado o maior ícone do desrespeito de Bush às leis internacionais, o democrata deve fechar a prisão para terroristas na base naval de Guantánamo, em Cuba, como símbolo de chegada da mudança e de seu compromisso em acabar com práticas condenadas pelas organizações de direitos humanos.
Legado
Base naval americana em Cuba, Guantánamo foi transformada em uma prisão para terroristas às pressas --os primeiros presos ficavam em jaulas abertas. Hoje, ela abriga 245 pessoas, segundo o Pentágono, acusadas de ligação com a Al Qaeda e a milícia Taleban, que assumiram a autoria dos ataques contra os EUA em 2001.
Para muitos, a existência de Guantánamo só é possível pelo sentimento de terror generalizado gerado pelos ataques, após os quais, tudo seria possível no combate aos responsáveis.
Os tribunais de exceção foram criados em 2006 e atualmente são responsáveis por 21 casos, 14 deles já atribuídos a um juiz, em um total de 245 detentos, de acordo com dados do Pentágono.
Desde então, comunidade internacional e ONGs dos direitos humanos acusam os EUA de realizar detenções extrajudiciais e empregar táticas abusivas de interrogatório. Bush, assim como boa parte de seu governo, defende não apenas a prisão, mas a asfixia simulada, considerada tortura pelas agências de direitos humanos e que o republicano defendeu como uma técnica legalizada que ajudou a salvar vidas.
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