segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A presença do Brasil no exterior

Folha de São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010



Ação é a maior no exterior no pós-2ª Guerra


Embora analistas e diplomatas ressaltem o caráter multilateral e regional da Minustah -países latino-americanos contribuem com metade do efetivo-, para os militares brasileiros o comando da força adquiriu importância particular.
Na sexta, com a distribuição de ajuda em Porto Príncipe, eles tentaram mostrar que continuavam no controle, apesar da presença americana.
Matias Spektor, da FGV do Rio, lembra que essa é a maior mobilização de tropas brasileiras desde a Segunda Guerra. Antonio Jorge Ramalho, da UnB, defende que similaridades entre as realidades brasileira e haitiana tornaram o contato dos militares com a população local melhor do que o que ela teve com outras forças estrangeiras.
Em estudo sobre a Minustah, Monica Hirst, professora de relações internacionais da Universidade di Tella (Buenos Aires), destaca a visão brasileira do Haiti como local de treinamento para ações não convencionais, "num contexto de novas ameaças e modalidades de conflito e de crescentes desafios humanitários".
O objetivo de ampliar a presença em forças de paz foi incorporado à Estratégia Nacional de Defesa (2008). A diplomacia, do seu lado, cita a articulação regional entre as principais motivações para assumir o comando da missão, em 2004. Na semana passada, o chanceler Celso Amorim defendeu a necessidade de que o reforço pós-terremoto viesse majoritariamente de países latino-americanos.
Embora a candidatura a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança seja pano de fundo para as ações internacionais do Brasil, o vínculo com o Haiti não é imediato. "O momento da reforma [do CS] não está próximo e nada garante que esse gesto será lembrado quando chegar o momento", diz Ramalho.
Spektor e Hirst destacam, entre os dividendos que o Brasil pode colher da operação no Haiti, o aprimoramento de mecanismos de cooperação internacional civil, sejam diretos ou por meio operações triangulares, em que outros países repassam dinheiro a agências e ONGs nacionais.

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