sexta-feira, 17 de julho de 2009

Colômbia e Estados Unidos

Folha de São Paulo, sexta-feira, 17 de julho de 2009



EUA ampliam presença militar na Colômbia
Bogotá diz que está "perto" de fechar acordo que permitirá ao Pentágono usar três bases e provoca crítica interna e dos vizinhos

Washington deve levar ao país atividades antidroga da base americana de Manta, no Equador, que Quito fecha hoje após dez anos de uso

O governo da Colômbia anunciou ontem que está "perto" de fechar um acordo com a Casa Branca para aumentar a presença militar dos EUA em três bases colombianas, provocando críticas da oposição e dos vizinhos esquerdistas.
A confirmação das negociações coincide com o encerramento, hoje, das atividades da única base militar americana formalmente instalada na América do Sul, a de Manta, no Equador.
O presidente equatoriano, Rafael Correa, prometera desde a campanha eleitoral, em 2006, que não renovaria o contrato para o uso da base pelos EUA, que expira neste ano. Em 2008, a nova Constituição do país aprovou veto a qualquer base estrangeira no Equador.
Desde 2006, então, os EUA procuravam um local para reinstalar as atividades de Manta, de onde partiam os aviões de monitoramento de plantações de coca e das rotas de narcotráfico, responsáveis, segundo os EUA, por 60% das apreensões de droga da região.
Ontem, o governo da Colômbia fez uma audiência pública com a presença do chanceler, o ministro do Interior e o ministro da Defesa para explicar as conversas em curso com os americanos, ante os pedidos de maior transparência.
Segundo os funcionários, se o acordo for fechado, a Colômbia ampliará a presença americana nas bases de Malambo, no norte, e Palanquero e Apiay, no centro do país.
A Colômbia, que já é a maior receptora de ajuda militar dos EUA fora do Oriente Médio, tem dito que as bases não serão americanas, já que Bogotá terá o controle das operações.
O governo de Álvaro Uribe diz que não é necessária a aprovação do eventual acordo pelo Congresso americano, uma vez que o reforço se dará dentro dos limites já estabelecidos pelos EUA no Plano Colômbia, de combate ao narcotráfico e à guerrilha: até 800 militares e até 600 civis contratados.
Segundo o governo Uribe, os EUA investirão até US$ 5 bilhões em instalações militares que serão herdadas pela Colômbia, além de terem o compromisso de compartilhar informações de inteligência.
Segundo a Associated Press, o acordo incluiria visitas "mais frequentes" por navios americanos em duas bases navais no Caribe. A Colômbia também teria condições especiais para a compra de armas e aviões.

Desconfiança regional
A audiência de ontem foi marcada pelo esforço do governo em aplacar a desconfiança interna e dos vizinhos, pouco mais de um ano depois do ataque de Bogotá a um acampamento das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no Equador.
Após o bombardeio, que provocou a mais grave crise diplomática regional em dez anos, não faltaram insinuações de que a Colômbia tinha contado com ajuda americana.
"Os políticos latino-americanos que aceitam uma base militar americana são traidores da sua pátria", disse em La Paz o presidente boliviano, Evo Morales. Ele lembrou ter expulsado do país os funcionários da DEA, num outro revés para as atividades antitráfico dos EUA.
O general Freddy Padilla, ministro colombiano da Defesa, repetiu ontem que das bases não partirão missões que "projetem força" em direção a outros países. O Pentágono não comentou as negociações.
No começo de abril, porém, um documento da Força Aérea dos EUA, apresentado num seminário militar no Alabama, citava que a base de Palanquero poderia se transformar num ponto de partida para operações de longo alcance. "Perto de metade do continente pode ser coberta pelo [avião] C-17 sem reabastecer" desde a base, diz o documento.
"É um imenso erro diplomático", diz Rafael Pardo, ex-ministro da Defesa e pré-candidato do Partido Liberal, centrista, à sucessão de Uribe.

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