sexta-feira, 8 de maio de 2009

Afegãos protestam contra morte de civis em ataque dos EUA

Afegãos protestam contra morte de civis em ataque dos EUA


da Folha Online

A polícia enfrentou nesta quinta-feira centenas de manifestantes que protestaram contra a morte de civis em um ataque, na segunda-feira passada (4), das forças americanas no Afeganistão. O bombardeio aéreo contra o grupo islâmico radical Taleban pode ter deixado até cem mortos na Província afegã de Farah, segundo estimativas da polícia local.

Gritando frases como "Morte à América" e atirando pedras nos policiais, centenas de afegãos se reuniram por cerca de duas horas no oeste do Afeganistão, um dia depois da reunião entre os presidentes afegão, Hamid Karzai, o paquistanês, Asif Ali Zardari, e o americano, Barack Obama --que terminou com promessas de esforço redobrado para derrotar a rede terrorista Al Qaeda.

As autoridades afegãs ainda não determinaram o número de civis que morreram no bombardeio da aviação americana a um grupo de talebans, mas a imprensa local e fontes policiais citadas por agências de notícias falam em mais de cem mortos. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha acusou os EUA nesta quarta-feira de matar "dezenas" de civis afegãos com ataques aéreos, incluindo mulheres e crianças.

Rohul Amin, governador da Província de Farah, disse temer que mais de cem civis tenham sido mortos durante a operação da Otan de combate aos talebans. O chefe de polícia provincial, Abdul Ghafar Watandar, disse que o número de mortos pode ser ainda maior.

Caso os números sejam confirmados, este será o mais violento ataque a civis afegãos desde o início da ofensiva liderada pelos americanos para derrubar o Taleban do governo local, em 2001.

Os manifestantes se reuniram em frente à delegacia e ao escritório do governo local e gritaram frases contra os governos americano e afegão. Os comerciantes fecharam suas lojas e afirmaram que não as reabrirão até que o ataque seja investigado.

O jornal americano "The New York Times", que cita manifestantes, afirmou que o protesto pedia ainda a retirada das tropas americanas do país, em um momento no qual Obama acaba de anunciar um reforço nas forças dos EUA para o combate ao terrorismo.

Do lado de fora do escritório local, a polícia abriu fogo contra os manifestantes que atiravam pedras. Segundo Gul Ahmad Ayubi, funcionário do departamento de Saúde provincial, seis manifestantes ficaram feridos.

O jornal afirma ainda que três funcionários de alto escalão se reuniram com os líderes do protesto e ofereceram sua renúncia em sinal de simpatia à causa.

Lamento

Nesta quarta-feira, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, reiterou que os EUA lamentam "profundamente" as mortes de civis. O governo americano admitiu mais cedo que o ataque pode ter causado a morte de civis, mas não assumiu diretamente a responsabilidade pelo incidente.

"Nós lamentamos profundamente as perdas de vidas humanas no Afeganistão", afirmou Hillary, em declaração ao lado do presidente afegão e do Paquistão, em Washington (EUA). "Qualquer perda de vidas é dolorosa", completou.
Reuters
Afegãos retiram pedras de local de taque americano, em Ganj Abad, do distrito de Bala Buluk, em Farah
Afegãos retiram pedras de local de taque americano, em Ganj Abad, do distrito de Bala Buluk, em Farah

Hillary lembrou ainda que uma investigação conjunta de americanos e afegãos foi aberta para descobrir as circunstâncias do ataque.

O presidente Karzai pede há tempos que os EUA demonstrem esforços para reduzir o número de vítimas civis em suas operações contra o Taleban no país.

Ele ordenou uma investigação sobre o caso e enviou um general para a Província. Ele deve comandar uma equipe de militares e policiais afegãos.

Dúvidas

O general David McKiernan, comandante-chefe das forças americanas e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no Afeganistão, disse duvidar que os civis foram mortos pelo ataque aéreo americano.

"Nós temos algumas outras informações que nos levam a outras conclusões sobre a causa das mortes civis", disse, sem dar detalhes sobre as hipóteses levantadas.

Um funcionário de alto escalão da Defesa americana afirmou nesta quarta-feira que forças especiais da Marinha dizem acreditar que os civis foram mortos por granadas lançadas por militantes do Taleban, que colocaram os corpos em um carro e os exibiram pela vila, afirmando que foram vítimas de ataque americano.

Um segundo funcionário americano afirmou que um comandante taleban ordenou o ataque com granada. Os dois falaram em anonimato.

Dois outros funcionários de alto escalão da Defesa dos EUA disseram que o relato do ataque com granada foi obtido de testemunhas entrevistadas por investigadores americanos que foram ao local.

Depois da morte de dezenas de civis em um ataque americano na vila afegã de Azizabad --a ONU diz que 90 morreram e os EUA falam em 33 vítimas-- em agosto passado, o general McKiernan ordenou que as forças americanas recuassem sempre que civis estivessem em risco nas batalhas.

Nenhum comentário: