Essa postagem é retirada em alguns pontos da obra de Negri e Hardt (Império, Record, 2006) onde os autores falam acerca da relação entre crise econômica e capitalismo. São momento pontuais e isolados, mas como suas observações são pertinentes, serão postadas aqui para promover breves reflexões posteriores.
“A crise capitalista, como Marx nos informa, é uma situação que requer que o capital se submeta a uma desvalorização geral e a um profundo reajuste das relações de produção, como resultado da pressão que o proletariado exerce sobre a taxa de lucro.” P.282
“Uma crise, entretanto, nem sempre é um evento inteiramente negativo ou mal recebido, da perspectiva do capital. Marx argumenta que o capital tem, na verdade, interesse fundamental na crise econômica, por seu poder transformador. Com relação ao sistema em geral, capitalistas individuais são conservadores. Eles se concentram, basicamente, em maximizar seus lucros individuais a curto prazo, mesmo quando isso representa um caminho funesto para o capital coletivo a longo prazo. A crise econômica pode vencer essas resistências, destruir setores não lucrativos, reestruturar a organização da produção e renovar suas tecnologias. Em outras palavras, a crise econômica pode levar a uma transformação que restabeleça uma alta taxa de lucro geral, reagindo dessa maneira com eficácia no próprio terreno definido pelo ataque operário.” P.287-288
Essas passagens estão inseridas no Capítulo do Livro denominado “Resistência, Crise e Transformação”, que no argumento dos autores o momento pós- Bretton Woods enfrenta uma crise no final dos anos 60 e início dos anos 70 que inicia uma nova fase de reestruturação produtiva e das próprias estratégias de controle e dominação decorrentes da estrutura capitalista. Essa crise dá ensejo a um novo marco analítico que é desenvolvido por Negri e Hardt como o surgimento do Império em ordem global, que abrirá também a possibilidade de oposição a este de forma global, por parte da Multidão.
O objetivo da reflexão não é propriamente estabelecer uma análise da obra dos autores e de estabelecer comparação, complemento ou crítica.
O ponto central é a reflexão acerca das observações feitas, que demarca não uma nova ordem mundial após a crise, algo que pode de fato ser verdade, mas o fato de que a crise gera uma profunda alteração nas estruturas produtivas e governamentais, possibilitando também novos ciclos de acumulação de capital. As crises representam novos rumos ao capital, que pode vir a reagir sob a forma de 2 hipóteses à atual situação:
1- O fortalecimento das fronteiras nacionais, iniciando um novo processo de disciplinarização e controle do trabalho, focando uma parte dos seus esforços na extração de trabalho humano nos confins estatais. Tal possibilidade seria uma espécie de um “neokeynesianismo”, que em seu período de consenso gera um acréscimo global da pobreza relativa e decréscimo da pobreza absoluta, que se relaciona a um efeito derivado de seus processos disciplinares e regulamentares de tendências limitadas. Tal hipótese considerada mais difícil na atual configuração mundial, mas que é defendida por boa parte dos teóricos que vieram a se posicionar no momento pós-crise.
2- A abertura e preenchimento de novos mercados, marcando novos ciclos de acumulação primitiva, tendo a tendência atualmente de não serem compreendidos mais como eventos históricos específicos, e sim processos contínuos reabertos em fases específicas do desenvolvimento das forças produtivas. Como Marx chama atenção, todo ciclo de acumulação primitiva é marcado por escravização, pilhagem e assassinato.
Não há ainda um distanciamento histórico suficiente para ser feita uma análise profunda dos efeitos e conseqüências da crise, mas nenhuma das hipóteses levantadas parecem animadoras.
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