quinta-feira, 9 de abril de 2009

Isolar Jerusalém vai opor Israel aos EUA, aponta analista

LUÍS FERRARI
da Folha de S.Paulo

Se implantado, o plano do novo governo israelense de expandir assentamentos na Cisjordânia, "ilhando" o setor árabe de Jerusalém, vai precipitar uma crise com Washington. O diagnóstico é de Akiva Eldar, autor de um livro sobre a história das colônias judaicas e editorialista do "Haaretz". Ele fala com autoridade de quem atuou dez anos como correspondente diplomático e mais três na chefia do escritório em Washington de um dos mais influentes jornais de Israel.

*FOLHA - Como a colonização da área E1 afeta a ideia de instalar a capital palestina em Jerusalém Oriental?
AKIVA ELDAR -* O plano de cercar a Grande Jerusalém com comunidades judaicas remove qualquer chance de os palestinos conectarem Jerusalém a outras partes da Cisjordânia. Com a construção do muro, na E1 e outras colônias a Cisjordânia será cortada ao meio. A população palestina cresce rapidamente e eles não têm onde construir novas casas.

*FOLHA - Pode ser imposto um isolamento como o da faixa de Gaza?
ELDAR -* Ao menos em Gaza há unidade territorial, sem assentamentos. Em Jerusalém, o plano de ampliar colônias não permitirá a separação entre israelenses e palestinos, em prol da solução dos dois Estados.

*FOLHA - Colonizar E1 é ideia do premiê, Binyamin Netanyahu, ou do chanceler, Avigdor Lieberman?
ELDAR -* É mais antiga. Desde 93, com o Acordo de Oslo, ficou claro que precisava ser congelada. O plano passou por comitês de planejamento e zoneamento. Todos os premiês sofrem pressão do prefeito de Maale Adumim, a segunda maior colônia na Cisjordânia, para expandir a E1. A meta é ter 3.500 famílias, criar hotéis e uma zona industrial.

*FOLHA - Contempla palestinos?
ELDAR -* O governo dirá que, na área industrial, podem ser criados empregos para palestinos, não casas. Os assentamentos são só para judeus.

*FOLHA - Onde viveriam os árabes trabalhadores do parque industrial?
ELDAR -* (Risos) Acha que Netanyahu e Lieberman se importam? Talvez eles gostariam que o Brasil os recebesse...

*FOLHA - Como seria a reação dos EUA à expansão dessa colônia?
ELDAR -* A rigor, a única razão para a E1 permanecer no papel é a pressão americana. Isso ilustra que, quando os americanos mandam uma mensagem clara a Israel de que não aceitam novos assentamentos, os israelenses evitam fazê-lo.
Aconteceu com Netanyahu entre 1996 e 1999, que só fez promessas mas não encostou na E1. Para os americanos, tal avanço representará o fim do processo de paz. Mostrar que o campo pragmático de Abu Mazen [Mahmoud Abbas] não serve e que o Hamas está 100% certo, que os israelenses não querem buscar a terceira via.

*FOLHA - Como os EUA limitariam a ação de Israel?
ELDAR -* O presidente Bush pai, em 1992, disse aos israelenses que parassem as colônias, para manter o auxílio econômico. Israel quis contestar, acabou sem o dinheiro e o Likud perdeu a eleição. Os americanos têm muito poder: o povo israelense não aprova seu governo contrariar os EUA. O premiê que entrar em crise com os EUA está fadado ao fracasso.

*FOLHA - O que precipitaria uma crise desse porte com os EUA?
ELDAR -* Se decidirem construir na E1, irá precipitar uma crise. Por isso ainda não foi feito. A mensagem até mesmo de Bush [filho], e mais ainda de Obama, sobre E1 é bem clara: para os EUA é uma linha vermelha.

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