quinta-feira, 9 de abril de 2009

Índia, crescimento e desigualdade

Matéria extremamente interessante acerca da Índia. Nela pode ser percebida de certa forma de que a única fonte de extração de riqueza é o trabalho humano. O que pode estar de certa forma claro na Índia é que o esbulho é visível, tanto por parte das elites indianas quanto dos conglomerados presentes no país. Resultado: aumentou-se a pobreza de um país paupérrimo. Alguma novidade nesse processo?


A Fonte é a BBC Brasil.


Crescimento com desigualdade pode ameaçar Índia como potência em 2020

Daniel Gallas

Enviado especial da BBC Brasil a Nova Délhi e Hyderabad

Favela em Mumbai, na Índia (Getty Images)

Milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza na Índia

O forte crescimento econômico que colocou a Índia na lista de emergentes aumentou a desigualdade social do país e pode comprometer seriamente sua inclusão no clube das potências mundiais até 2020. Analistas e lideranças políticas ouvidas pela BBC Brasil afirmam que o fato de a Índia ter milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza impõe um limite ao crescimento do PIB nacional, comprometendo a continuidade do desenvolvimento e aumentando o risco de instabilidade social e violência.

Para continuar a manter seu ritmo de crescimento e evitar distúrbios sociais que venham a ameaçar a segurança do país, afirmam especialistas, o governo indiano terá que enfrentar o desafio de estender os benefícios dessa prosperidade a mais camadas da sociedade.

"Os indianos precisam parar de acreditar que o país vai continuar crescendo acima de 6% ao ano automaticamente, sem que nenhum esforço seja feito, e que nosso destino inevitável é se tornar uma potência", diz Rajiv Kumar, analista do instituto de pesquisa Indian Council for Research on International Economic Relations (ICRIER), sediado em Nova Délhi

O modelo de desenvolvimento econômico adotado pela Índia - que resultou num crescimento médio de 8% ao longo dos últimos quatro anos - foi paradoxalmente a mesma causa do aumento da desigualdade. O país apostou em grande parte nos setores de tecnologia da informação, serviços e telecomunicações, o que aumentou a prosperidade da Índia urbana. Mas, em contrapartida, a Índia rural, onde vive cerca de 60% da população do país, foi mantida amplamente à margem dessa prosperidade - limitada a atividades agrícolas de baixa rentabilidade e por uma força de trabalho sem qualificação.

O Banco Mundial afirma que a Índia até conseguiu retirar pessoas de baixo da linha da miséria extrema: o percentual de indianos com renda inferior a US$ 1 por dia caiu de 42% em 1981 para 24% em 2005. No entanto, a camada mais rica da sociedade melhorou seus padrões de consumo de forma muito mais acelerada do que os mais pobres.

O indicador que mede a diferença de renda entre ricos e pobres - o coeficiente Gini - se manteve estável ao longo dos anos 80, mas disparou a partir das décadas seguintes e continua crescendo. Igualmente, os Estados indianos que concentram a maior riqueza crescem mais rápido do que os Estados mais pobres. Alarmado com essa disparidade, o Fundo Monetário Internacional (FMI) chegou a afirmar em estudo recente que "a maré da economia indiana sobe, mas nem todos os barcos estão conseguindo subir junto".

Prosperidade

Do lado da Índia que cresce estão empresas com mão-de-obra altamente qualificada, que passaram a competir no mercado internacional com multinacionais de países desenvolvidos com custos mais competitivos. Para essa Índia, os prognósticos para 2020 são positivos:

"A competitividade do setor de tecnologia indiano vai continuar ao longo da próxima década, e até por mais anos", acredita B. Krishnamurthy, um dos vices-presidentes da empresa Wipro Technologies, na cidade de Hyderabad.

A empresa é um dos símbolos da camada de cima da Índia, que não para de enriquecer. Há 60 anos, a empresa produzia óleo de cozinha. Hoje, com 97 mil funcionários, ela é a segunda maior empresa de tecnologia da informação do país.

Assim como muitos indianos, Krishnamurthy confia no fator demográfico para continuar elevando o crescimento da Índia.

O país tem a segunda maior população do mundo. Após as reformas de liberalização da economia promovidas nos anos 90, a renda per capita do país disparou (132% entre 1990 e 2006) e os 1,3 bilhão de indianos passaram a ser vistos, por investidores estrangeiros e empresários locais, como um enorme mercado consumidor em potencial. Muitos especialistas afirmam, inclusive, que a vantagem demográfica da Índia foi um dos principais motores do crescimento econômico do país.

"A Índia tem a maior população de trabalhadores jovens do mundo, 28% da nossa população é jovem", diz o executivo. "Eles falam inglês e são bem educados e capazes. Isso será a nossa grande vantagem. Enquanto outros países ainda estão tentando nos alcançar, eu tenho certeza que essa vantagem vai nos manter à frente dos demais."

Instabilidade

Nem todos concordam, entretanto. Analistas costumam prever dois cenários para o futuro do país. Um é positivo, no qual o governo conseguiria incluir a população "no barco que sobe", e a Índia manteria um crescimento sustentável em torno de 10%. O outro é sombrio, com estagnação econômica e instabilidade social.

Nos últimos anos, o crescimento da desigualdade, sobretudo no meio rural, fortaleceu movimentos extremistas de inclinação maoísta, como o dos nexalitas, que pregam uma revolução social e insurgência contra o governo. Hoje eles já atuam em 40% do território indiano. O primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, já disse que os nexalistas são a principal ameaça à segurança da Ín

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