quarta-feira, 15 de abril de 2009

Política de Obama e Cuba

FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO

Fidel elogia, mas cobra mais de Obama

Ex-ditador cubano diz que liberação de viagens é medida positiva, mas "mínima", e que não quer "prejudicar" presidente dos EUA

TV oficial saudou anúncios de Washington; dissidentes moderados esperam gesto de Raúl para continuar a aproximação bilateral

Javier Galeano/Associated Press

Parentes abraçam os familiares vindos dos EUA em Havana; Casa Branca pôs fim a restrições

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Menos de 12 horas após opinar sobre as medidas anunciadas pelo governo americano para Cuba, o ex-ditador Fidel Castro escreveu de novo ontem para reforçar sua mensagem a Barack Obama: ele o admira, não quer "prejudicá-lo", não o culpa pelo embargo econômico, mas exige que as mudanças na política para Havana se estendam além das "positivas, mas mínimas", liberações de viagens de cubano-americanos e do envio de remessas.
O "blogueiro" convalescente -afastado do poder formalmente desde fevereiro de 2008- sugeriu, mais uma vez, que a questão de Cuba seja discutida na Cúpula das Américas, que começará nesta sexta e será perpassada pelo coro latino-americano pela normalização das relações entre Washington e Havana. Ontem, o chanceler Celso Amorim voltou a defender a aproximação bilateral.
O ex-ditador mencionou que o secretário de Estado assistente para a região, Thomas Shannon, convidou ao Departamento de Estado o veterano embaixador cubano Jorge Bolaños, da Seção de Interesses de Havana em Washington, para explicar a ele as medidas antes do anúncio oficial, anteontem. O gesto foi lido por um diplomata brasileiro como "cortesia diplomática" bastante rara na relação recente dos dois países.
Enquanto Fidel cobrava avanços, o noticiário da TV estatal anteontem saudou a liberação de viagens e remessas dizendo que eram promessas de campanha do democrata. Citou que as decisões ajudam o "fluxo de informações" entre Cuba e o mundo e facilitam a chegada de "ajuda humanitária", mas não mencionou a permissão dos EUA para que empresas de telecomunicações americanas ofereçam serviços em Cuba.

Expectativas internas
Raúl Castro, no poder formal há mais de um ano, não falou, mas é sobre ele que recaem expectativas dos cubanos, que esperam reação positiva aos anúncios de Washington. Sob a deprimida economia cubana, corre a percepção de que uma aproximação com Obama é a via rápida para obter algum alívio econômico -por meio de mais remessas e viagens- e para, quem sabe, abrir caminho a reformas econômicas.
"Espera-se um gesto de Raúl, que poderia ser flexibilizar as regras rígidas para sair da ilha ou baixar o custo do envio de remessas, para ajudar na aproximação", diz o sociólogo cubano-dominicano Haroldo Dilla, ecoando dissidentes moderados dentro e fora do país.
A Casa Branca pediu que Havana reduza encargos sobre as remessas enviadas. A taxa sobre o dólar e o câmbio valorizado da ilha (um dólar vale 0,83 peso conversível) fazem o envio custar três vezes mais que a média da região, segundo estudo do Interamerican Dialogue e da Universidade da Flórida.
Quanto ao impacto político do maior fluxo de cubano-americanos no país, os analistas não entram em consenso. Há os que dizem que será um desafio para o regime e comparam as visitas aos contatos das duas Alemanhas antes da queda do Muro de Berlim, em 1989. E há os que dizem que a ilha e o regime já estão relativamente acomodados com o turismo. Para um diplomata brasileiro, dirigentes cubanos se mostram dispostos à aproximação com os EUA e têm minimizado o aspecto "abraço de urso" dela.

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