Vale ressaltar que a escala é progressiva, desde 2007 os números são crescentes, sintoma óbvio da pauperização que o planeta vem sofrendo em escala progressiva desde o chamado neoliberalismo, ou anarcocapitalismo. Na verdade esse síntoma não deriva de uma característica específica desse tipo de formato político-econômico, visto que mesmo nos anos do chamado Estado de bem-estar o nível de pobreza relativa (diferença de ganho entre os mais ricos e mais pobres) também cresceu.
Nos anos anteriores vivíamos em guerra e não sei se o século XX viveu exatamente um momento em que pudéssemos avaliar e dizer que a pauperização vem diminuindo, como se esse fosse o objetivo. Falar que a pauperização está diminuindo é em si contraditório, pois demonstra que a nossa avaliação é feita à distância e baseada em números e gráficos, sem ter a dimensão real do acontecido.
Para aqueles que passam fome o número é em si irrelevante, pois de nada altera sua condição, assim como todos aqueles que diariamente morrem vítima da desigualdade social.
Somos todos, hoje, testemunhas parciais desse tempo presente, como diria Giorgio Agamben.
Notícia da Folha de São Paulo.
Famintos superarão 1 bilhão, alerta FMI
Barreira deve ser rompida neste ano; segundo fundo e Banco Mundial, crise reverteu longa tendência de redução da pobreza
Mortes de crianças de até 5 anos por desnutrição devem aumentar em 400 mil/ano; 40,3 milhões de latinos viverão com US$ 1,25 ao dia
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
Se nas economias avançadas as pessoas estão perdendo empregos e casas, nos países pobres mais de 1 bilhão vão passar fome por conta da crise global. Isso supera a população do Brasil, dos EUA e da União Europeia somadas (ou 15% da mundial) e representa um salto de 40 milhões em relação a 2008 -150 milhões desde 2007.
Outros 100 milhões de pessoas permanecerão extremamente pobres, mesmo com a atual retração nos preços dos alimentos. E mais 400 mil crianças de até cinco anos vão morrer de desnutrição ao ano.
Segundo o Banco Mundial e o FMI, a crise econômica dos países ricos levou a um retrocesso na tendência de redução da pobreza que já durava anos.
Na América Latina, o número de pessoas vivendo com menos de US$ 1,25 ao dia (cerca de R$ 3) deve aumentar para 40,3 milhões (7% do total) neste ano, contra 37,6 milhões em 2008. Para o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o percentual de pobres no Brasil em 2007 era de 10,2%.
Um conjunto de fatores desencadeou isso, todos girando em torno da redução da demanda e dos fluxos de capital entre os países ricos.
Nos EUA, a capacidade ociosa da indústria foi a 31% em abril. Em outras economias "médias", está entre 40% e 60%. Isso reduz a demanda pelas matérias primas que os países pobres produzem. Na média, as exportações globais encolheram 6,5% neste ano.
A demanda menor também deve derrubar o preço das commodities em 30% neste ano. Ou seja, os países mais pobres não só exportam menos, mas ganham menos pelo que vendem.
Crédito congelado
Além disso, com o congelamento do crédito nos países avançados, os fluxos de capital para os países mais pobres secaram quase totalmente. Para o mundo em desenvolvimento, a queda é inédita e deve atingir US$ 700 bilhões (cerca da metade do PIB do Brasil) em 2009.
A soma desses fatores será um crescimento menor, tanto nos países ricos quanto nos pobres. E é o crescimento que determina a redução da pobreza.
Na região mais pobre do planeta, a África subsaariana, por exemplo, a média do crescimento dos países despencará neste ano de 6,7% entre o período 2006-07 para 1,7%. Entre os países em desenvolvimento, a retração será de 8,1% para 1,6% no mesmo período. Nos ricos, de 1,8% para -3,8%.
"Com recessões coordenadas em várias partes do globo e diante de uma dolorosa e lenta recuperação, a luta pela erradicação da pobreza se tornou um desafio mais urgente e difícil", afirmou John Lipsky, diretor-gerente-adjunto do FMI durante a apresentação ontem do "Relatório de Monitoramento Global". Na capa, uma foto de nuvens pretas e carregadas.
No início do mês, o G20 (as maiores economias do mundo) concordou em elevar de US$ 200 bilhões para US$ 300 bilhões o financiamento do Banco Mundial a países em desenvolvimento pelos próximos três anos. O Banco Mundial e FMI também esperavam dobrar, até 2010, a ajuda à África.
Sobre esse último ponto, Lipsky foi claro: "Acho muito difícil que isso aconteça".
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